LUIZ PINHEIRO LANÇA
LIVRO E VÍDEO-POEMA-MUSICADO
RELEVÂNCIA
Kiko Rieser
Entre tantas tragédias, um dos poucos bons legados que a pandemia nos deu foi a experimentação artística em direções e linguagens imprevistas. Recriar para o vídeo trabalhos antes pensados ou mesmo já realizados para o público presencial foi um desafio que obrigou artistas a se reinventarem e aprenderem técnicas e estéticas que antes pareciam muito distantes de suas realidades.
Peças de teatro se tornaram obras que flertam diretamente com o cinema e espetáculos de música puderam experimentar procedimentos impossíveis de serem executados ao vivo e com presença de plateia. É no aprofundamento dessa pesquisa de intersecção de linguagens que nasceu a concepção do espetáculo “Poemas que dormem comigo”. Usando todo tipo de artifícios de vídeo, com sobreposição de imagens e iluminação completamente distinta da de um show convencional, a hibridez da obra reflete o livre trânsito que Luiz Pinheiro tem entre a poesia e a canção.
Enquanto puristas se debatem incrédulos diante de um Prêmio Nobel conferido a Bob Dylan por suas letras, Pi vai na linha de quem tira proveito da desnecessidade de rótulos, implodindo as fronteiras entre segmentos tidos como distintos. Se Alice Ruiz cunhou o termo “poesia para tocar no rádio”, Pi ressignificou, na definição de seu trabalho, a sigla MPB, agora convertida em Música Poética Brasileira. Não apenas na experimentação de linguagens, mas também nas escolhas estéticas, o vídeo, como é possível ver na versão “demo”, reverbera e amplifica os conceitos que sempre nortearam a obra de Luiz Pinheiro, fazendo com que palavra, som e imagem caminhem em perfeita sintonia. Um aspecto notório nesse sentido é o minimalismo.
Nas letras/poemas, há uma escolha por formas concisas e econômicas, quase matemáticas, assim como os arranjos são enxutos, limpos, com poucos instrumentos, valorizando a melodia da voz. O vídeo, por sua vez, traz cenários formados por lâmpadas tubulares de LED dispostas em formas geométricas, lembrando as composições concretistas de Lygia Clark, que, já flertando com o cruzamento de diferentes linguagens em sua época, buscava a absoluta síntese na plasticidade de seu trabalho. Essa disposição das lâmpadas, emoldurando imagens que são quase estáticas, se modifica a cada quadro, como se adentrássemos um caleidoscópio que vai encadeando imagens tão semelhantes quanto surpreendentemente diversas, assim como as letras das canções, que brincam com a sonoridade e a textura das palavras, por vezes se repetindo com pequenas variações, de onde se pode se extrair múltiplas leituras. Igualmente, a escolha pela coloração em preto e branco, com as luzes frias de LED criando contrastes radicais, também ecoa as dualidades e oposições que norteiam os versos do compositor.
A própria sobreposição de diferentes planos, fundindo a imagem de um músico com a de outro, está intimamente ligada ao conceito geral de entrecruzamento de todos os elementos que compõem a obra. Há, enfim, um diálogo afinado entre as linguagens que, amalgamadas, formam o espetáculo, mantendo uma sólida unidade conceitual. O grande saldo sensorial é um profundo intimismo que permeia todo o trabalho. A poética de Luiz Pinheiro, em vez de erigir um lirismo que busca a expressão subjetiva do “eu”, filia-se à tradição que, desde os primeiros poetas de que temos registro, esforça-se no sentido de criar novos pontos de vista para fatos e elementos cotidianos, revelando aspectos antes despercebidos, criando relações que se poderiam crer improváveis ou propondo uma ressignificação do que é observado.
Em suma, fala do mundo por um olhar muito singular e singelo, e assim fala de si. Inconscientes individual e coletivo são apreendidos como cenários pelos quais se passeia em permanente intertextualidade. Não à toa, o vídeo abre e fecha com breves imagens da cidade. Olhar para fora, voltar para si em profundo mergulho e novamente expandir a visão, agora prenhe da experiência individual – assim como a pandemia ensinou a muitos de nós.
SOBRE O LIVRO
SERVIÇO
SOBRE O
LUIZ PINHEIRO
O músico e poeta Luiz Pinheiro, depois dos CDs "Cássia Secreta", em parceria com Hermelino Neder, "Decompor" e "3,1415...", volta à cena com o lançamento de um novo trabalho. Trata-se de um livro intitulado "Poemas que Dormem Comigo", com selo da editora Patuá, além de um vídeo-poema-musicado, dirigido por Robson Catalunha. Ambos realizados com recursos da Lei Aldir Blanc.
O livro reúne poemas criados em vários períodos da vida de Luiz Pinheiro. Em vários deles, o artista preza pelas formas sintéticas e econômicas. Para ele "do poema enxuto, curto, quase matemático, podem ser extraídas múltiplas leituras". O poeta trafega com versatilidade por temas amorosos, filosóficos, psicanalíticos e sociais.
Vários dos poemas já foram musicados pelo próprio artista e, também, por compositores(as)/cantores(as) como Cássia Eller, Hermelino Neder, Luiz Gayotto, Vanessa Bumagny, entre outros. Além dessas parcerias, Luiz Pinheiro também colocou poesia na música de Arrigo Barnabé e “Façanhas”, canção de sua autoria, deu título a um disco do compositor da Vanguarda Paulista.
Nas páginas em que constam poemas já musicados e gravados há um QR code para que o leitor possa acessar a canção nas plataformas digitais, durante a leitura.
Além disso, a obra escrita foi adaptada em forma de vídeo sob a direção de Robson Catalunha e com direção de arte de Thiago Capella Zanotta. O vídeo foi concebido a partir do que se costuma chamar de poesia expandida. Já há muito tempo o catalão Joan Brossa concebia o poema para além do literário, usando recursos visuais, que foram muito explorados pelos concretistas, aqui no Brasil.
Com o lançamento do livro "Caixa Preta" nos anos 1970, que Augusto de Campos escreveu com o artista plástico Julio Plaza, Luiz diz que para ele o "céu passou a ser o limite no fazer poético". O livro de Campos é uma espécie de caixa e contém poemas visuais e escritos em módulos para serem montados formando estruturas geométricas cúbicas. O poema, então, sai da folha do livro e vai se inscrever em objetos. Para Luiz, "hoje em dia, até as palavras podem ser dispensadas em um poema, sendo este apenas um objeto ou uma imagem".
A direção do trabalho em formato vídeo, todo em preto e branco, remete às oposições, à dualidade e aos contrastes contidos nos poemas. Catalunha e Zanotta criaram um cenário a partir de luzes de LED, formando estruturas geométricas próprias para cada músico, em um diálogo com o fazer poético quase matemático do poeta.
Os diretores criaram imagens que, juntamente com o texto e as melodias feitas para os poemas, compõem um todo que levou-os a denominar o trabalho de "vídeo-poema-musicado".
Acompanham Luiz nas canções gravadas os músicos que trabalham com ele de longa data, como Valter Gomes, Luciano Nogara e Sandro Prêmmero, além da participação especial do violonista Jef de Lima e de Arrigo Barnabé, que interpreta juntamente com Luiz a música “Rebanho”. Além destes, o trabalho ainda conta com a participação de Laerte Késsimos (responsável pela identidade visual do livro), Hermelino Neder, Ivam Cabral, Vanessa Bumagny, Luiz Gayotto, André Sant´Anna e Ronaldo Cagiano.
O vídeo-poema-musicado será lançado no site (www.luizpinheiroartista.com.br) e nas redes sociais do autor, em três partes, nos dias 1º, 8 e 15 de março. Já o livro, no dia 20 de março de 2021, às 17h, na plataforma Zoom, quando o artista falará sobre o trabalho.
LUIZ PINHEIRO POR OUTROS AUTORES:
Sua canção, tanto na letra quanto na música e na sua interpretação retratam com força e novidade uma saga e denúncia social. Gostei muito. (Jorge Mautner, cantor e compositor, que participa de uma das faixas do "CD 3.1415..." sobre a canção "Nômade Urbano", um dos poemas musicados).
Artista profundamente antenado com as emergências de seu tempo e as demandas do ser, Luiz Pinheiro fez da letra e da música espaço em que – dialogando com seus pares, com outras obras e autores, seja na literatura ou na música - tudo o que é humano o interessa. (Ronaldo Cagiano, escritor e poeta)
E se é um grande prazer ouvir a poesia que mora nas melodias criadas para os poemas, o Luiz Pinheiro nos dá o privilégio de criarmos nossas próprias melodias, nosso próprio ritmo, ao lermos a partitura de palavras impressas. Ou seja, os poemas do poeta são duplamente poesia e por isso duplamente música.
(André Sant´Anna, escritor e músico).
Luiz Pinheiro é psicanalista e compositor e foi cantor da banda Football Music, liderada por Hermelino Neder, nos anos oitenta, e lançada no Teatro Lira Paulistana.
Dirigiu o show de lançamento da trilha sonora, composta por Hermelino Neder, do filme “A Dama do Cine Shangai” de Guilherme de Almeida Prado, ganhadora de vários prêmios.
Foi gravado por Vânia Bastos (música Kitsch ) no seu primeiro LP.
Foi gravado por Arrigo Barnabé, música que deu o título ao CD Façanhas.
Foi gravado por Cássia Eller, sendo seu parceiro em duas composições: “Eles” e “O Marginal”, no segundo disco da cantora intitulado O Marginal, nos anos noventa. Teve outras canções suas interpretadas em shows pela cantora.
É parceiro de Arrigo Barnabé, Hermelino Neder, Luiz Gayotto, Adriana Caparelli e Vanessa Bumagny.
Lançou, juntamente com Hermelino Neder, o grupo “Sociedade Secreta” em 1994, com show dirigido por Elias Andreato, tendo como integrantes do grupo o músico Ricardo Breim e a cantora Zuleika Walther.
Participou do projeto Satyricas Musicais no Teatro Sátyros, com show lítero-cênico-musical, juntamente com Vanessa Bumagny, Luiz Gayotto, Estevan Sinkovitz e André Sant’Anna em 2003 e 2004.
Compôs, juntamente com Hermelino Neder, a canção tema da peça “Kasper ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de Sua Casca de Noz”, que estreou no festival de Curitiba e seguiu temporada no Teatro Sátyros, com direção de Rodolfo Vasquez, tendo feito a direção musical .
Apresentou no Teatro Sátyros, em 2004 o show “Decantar”, onde interpretava compositores consagrados da MPB, tendo como participações especiais o compositor Hermelino Neder e a cantora Vanessa Bumagny.
Apresentou o show “Decantar”, sob direção de Sebastião Apollonio, no Teatro União Cultural, em São Paulo em junho de 2005.
Tem seus poemas citados e analisados no livro “Cássia Eller – Canção na Voz do Fogo”, de Beatriz Helena Ramos Amaral (Editora Escrituras- 2002- págs. 78, 79,80 e 122).
Tem seu trabalho com a Cássia Eller comentado no livro “A História de Cássia Eller – Apenas uma Garotinha”, de Ana Claudia Landi e Eduardo Belo (Editora Planeta – 2005- cap.11, pags.165-182; cap.19, pag.277)
Lançou, em 2005, na livraria Fnac, o CD “Cássia Secreta” (Tratore), com composições suas e do Hermelino que a Cássia já havia gravado e/ou cantado em shows, dando a elas uma nova interpretação.
Teve alguns de seus poemas publicados na Folha de S.Paulo online na coluna de Hermelino Neder Diário, Depressão e Fama em maio de 2006.
Teve poemas seus publicados no jornal O Avesso da cidade de Ourinhos, em 2006 e 2007.
Apresentou o show “Decompor”, com composições suas e em parceria, no Villaggio Café, em São Paulo, em junho e novembro de 2007.
Apresentou o show poético-musical “Decompor” na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em São Paulo, no dia 12 de Abril de 2008.
Apresentou o show “Decompor” no Teatro X, em 27 de junho de 2008, quando gravou um DVD, com participação das cantoras Vânia Bastos e Vanessa Bumagny.
Apresentou o show “Decompor” no Villagio Café, em 1º de novembro de 2008.
Apresentou o pocket-show “Decompor” em outubro de 2009 no evento “Satyrianas”, na Praça Roosevelt, em São Paulo.
Lançou o CD “Decompor” (Tratore, selo Espaço Musical) em 2011, seu primeiro solo, com composições próprias e releitura de compositores consagrados, com show no SESC Vila Mariana.
Participou da “Exposição coletiva de poetas”, em um projeto da Secretaria de Cultura de Ourinhos, em 2011. Outdoors com poemas dos contemplados foram instalados pela cidade.
Lançou o CD “3,1415...”, em 2014, com composições suas e de parceiros, tendo feito shows de lançamento no Mube, no Teatro Sérgio Cardoso, no evento Satyrianas , na Capital, em teatros do interior de São Paulo e no Festival de Teatro de Ourinhos
(show de encerramento).
Realizou com a psicóloga Izabel Abrahão, no período de 2008 a 2016 , um trabalho com usuários da Unidade de Saúde Mental da prefeitura (Caps Perdizes), que consistia em aproveitar as experiências subjetivas dos pacientes para a confecção de letras e melodias e apresentação do trabalho grupal em locais públicos, bibliotecas e centros de cultura, visando a inclusão e socialização dos integrantes. Esse trabalho venceu um concurso de seleção de projetos de arte, cultura e renda na Saúde Mental, realizado em 2010 pelo Ministério da Saúde. Por ocasião do encerramento do grupo, realizou-se um CD, “Ternos da Madrugada”, com composições dos usuários, executadas pelos próprios, sob a direção de Luiz, de Izabel e do produtor musical Valter Gomes, em parceria com o Centro Cultural da Juventude.
Fez parte do show “Phedras por Phedra”, no Teatro Oficina, juntamente com Maria Casadevall , Paula Cohen e Cléo de Paris, com direção de Gero Camilo e Robson Catalunha, em 2016. Esse show foi apresentado posteriormente no Teatro Satyros e na Virada Cultural.
Realizou recentemente, com o músico Valter Gomes, o show “Acústico”, no formato voz e violões, em que apresentava canções de seus três discos e novas composições.